sexta-feira, abril 14

Que Deus atrás de Deus começa a trama

"Sala artística" pintada pelo italiano Arturo Ricci (1854-1919)| Crédito https://en.wikipedia.org/wiki/Arturo_Ricci


Neste período Pascal de 2017 recordamos uma das mais belas poesia de Xadrez pelo argentino Jorge Luís Borges (1899 Buenos Aires-1986 Genebra). Neste belo poema recorda-se também o poeta persa Omar Khayyam (1048-1131) (também ilustre matemático e astrónomo). Este poema merece ser lido muitas vezes!!

Xadrez

1.
No seu recanto grave, os jogadores
dirigem as lentas peças. O tabuleiro
os demora até a aurora. No seu severo
âmbito, em que se odeiam duas cores.

Dentro irradiam mágicos rigores
as formas: torre homérica, ligeiro
cavalo, armada rainha, rei postreiro,
oblíquo bispo e peões agressores.

Quando os jogadores se tiverem ido,
quando o tempo os tiver consumido,
certamente não terá cessado o rito.

No Oriente se acendeu esta guerra,
cujo anfiteatro é hoje toda a terra.
Como o outro, este jogo é infinito.

2.
Ténue rei, oblíquo bispo, encarniçada
rainha, torre directa e peão ladino
sobre o negro e branco do caminho
buscam e livram sua batalha armada.

Não sabem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino

lhes subjuga o arbítrio e a jornada.

Também o jogador é prisioneiro
(a sentença é de Omar) de outro tabuleiro"
de negras noites e de brancos dias.

Deus move o jogador, e este, a peça.
Que Deus atrás de Deus começa a trama
de pó e tempo e sonho e agonias?

Jorge Luís Borges


"   Somos os peões deste jogo do xadrez
    que Deus trama. Ele nos move, lança-nos
    uns contra os outros, nos desloca, e depois
    nos recolhe, um a um, à Caixa do Nada.
                Omar Khayyam 



E na versão original

Ajedrez
I
En su grave rincón, los jugadores
rigen las lentas piezas. El tablero
los demora hasta el alba en su severo
ámbito en que se odian dos colores.

Adentro irradian mágicos rigores
las formas: torre homérica, ligero
caballo, armada reina, rey postrero,
oblicuo alfil y peones agresores.

Cuando los jugadores se hayan ido,
cuando el tiempo los haya consumido,
ciertamente no habrá cesado el rito.

En el Oriente se encendió esta guerra
cuyo anfiteatro es hoy toda la Tierra.
Como el otro, este juego es infinito.

II
Tenue rey, sesgo alfil, encarnizada
reina, torre directa y peón ladino
sobre lo negro y blanco del camino
buscan y libran su batalla armada.

No saben que la mano señalada
del jugador gobierna su destino,
no saben que un rigor adamantino
sujeta su albedrío y su jornada.

También el jugador es prisionero
(la sentencia es de Omar) de otro tablero
de negras noches y de blancos días.

Dios mueve al jugador, y éste, la pieza.
¿Qué Dios detrás de Dios la trama empieza
de polvo y tiempo y sueño y agonía?
Jorge Luís Borges 



Saber mais:
http://alfredo-braga.pro.br/poesia/rubaiyat.html
http://poesiacontraaguerra.blogspot.pt/2006/11/xadrez.html

http://www.poemas-del-alma.com/ajedrez.htm